Saturday, July 18, 2009

Já lá vão três meses

Já lá vão três meses e o meu coração continua só. Desde que aqui cheguei a solidão tornou-se a minha única e inseparável companheira.
Recordo os dias alegres de Verão em que passeávamos à beira rio com os pés descalços sobre as ervas. O rio brincava e cantava enquanto nós, de mãos dadas, jurávamos que a alegria seria eterna. Quando ias de férias, os dias eram negros e o sol brilhante só na manhã da tua vinda em que o anseio pelo teu abraço era já maior que o mundo.
Parti! Essa noite de Verão, quente e abafada, mudou a minha vida. O meu amor continua firme e inabalável como uma muralha, mas pensar que não te posso beijar, abraçar, sentir o teu cheiro, deixa-me à beira da loucura nesta terra de loucos.
Sei que não posso voltar e que não podes vir até mim. Não sei se acredito no destino mas sei que não podemos desfazer o que está feito e estamos assim condenados a esta tragédia. Dizem que o tempo tudo cura. Espero que não. Custa-me pensar que deixarei de sentir esta angústia que é, ao mesmo tempo, reconfortante.
Não quero! Não quero esquecer-te e partir para uma nova etapa. Quero sofrer e não mais ser feliz!
Pudera eu ser ave e espreitar pela tua janela uma última vez! Só isto e morreria tranquilo...

Tuesday, September 12, 2006

eles sim, elas não

Os homens são feios e as mulheres não;
Os homens pedem e as mulheres dão;
Os homens vêm e as mulheres vão;
Eles pedem desculpa e elas dão;
E para o caso de alguma coisa faltar...
Os homens são homens, e as mulheres não.

Monday, May 22, 2006

Objectivos

Gosto de viver por objectivos. Penso sempre que gostaria disto ou gostaria daquilo, que me falta algo que me faria ser mais feliz. Por vezes consigo atingir esses objectivos. Estranhamente, tal só me deixa mais feliz temporariamente. Será por eu ser difícil de satisfazer? Estará na minha natureza querer sempre mais? Ou será que atingir os objectivos nos leva a descobrir também lados negros que a vida nos ocultava até aí?

Wednesday, March 29, 2006

Mensagem na garrafa

Estou só, venham buscar-me!
Aonde? Não sei!
Para Sul há mar
e para Norte também.
Estou perdido nesta ilha
na companhia de ninguém.

Tuesday, March 07, 2006

A cidade Invisível

As ruas são intermináveis, as luzes cegam-nos com uma intensidade louca. As horas correm desenfreadas e ultrapassam-nos deixando-nos atordoados e tontos à medida que caminhamos por jardins a avenidas rumo a um destino incerto e desconhecido.
Esta cidade é um ser vivo, com vontades, necessidades e caprichos. Parece invisível como o camaleão e muda de forma segundo a situação. Ora se mostra bela e enfeitada com luzes brilhantes como se esconde, envergonhada, em bairros tristes e escuros.
Estou perdido, não sei onde estou, para onde vou nem para onde quero ir. Nem sei porque estou aqui. As pessoas parecem andar em modo automático como se fossem o sangue deste ser a fluir pelas artérias e veias que se cruzam com gigantescos órgãos de onde voltam gastas e sujas já sem ânimo para contrariar este animal.
Vou parar! Quero sair! Quero gritar! Quero pensar por mim. Quero soltar as amarras desta consciência colectiva que me pressiona e faz desesperar.
É difícil ter força, ter vontade, querer fazer melhor. Tenho medo. Não da cidade, mas de mim, de não ser capaz, de não querer, de me encostar à vida simples e fácil de quem não tem vontade.
- Como foi o teu dia? Normal?
- Sim, tal como todos os outros. Estou farto, quero mais!
- Queres mais o quê?
- ...
- ...
- Nem sei...

Monday, February 27, 2006

Primeiro beijo

Disseste que não.
Mas de tal forma o fizeste
que adivinhei a razão
pela qual não mo deste.

Sorriste, envergonhada
e eu pedi novamente
um beijo à descarada.
Eu sei, o teu sorriso não mente.

Foi a minha primeira vez
e não mais vou esquecer
o doce sabor dos lábios teus.

Esqueci a timidez,
e avancei sem tremer
rumo aos lábios, agora meus.

Monday, February 20, 2006

Chamei-te

Chamei-te, mas foi em vão!
De tal forma me olhaste
que logo percebi então
porque as costas me viraste.

Monday, February 13, 2006

Esperança

E então voltou-se! Um arrepio percorreu-me o corpo enquanto ela se virava e todo um mundo de novas ilusões renasceu em mim.

Tuesday, January 31, 2006

Caminhos

Ruas, estradas,
trilhos que correm sem parar.
Caminhamos, peregrinos,
numa busca sem cessar.

É noite!
A estrada é escura como breu.
Para onde vai este viajante,
perdido entre a Terra e o Céu?

Tuesday, January 17, 2006

Adaptação

O povo é quem mais ordena
dentro de ti, ó cidade.
Nesta terra que mete pena
mas que deixa tanta saudade!

Monday, January 16, 2006

Quatrocentos

A narrativa segue e o enredo é cada vez mais complexo. A caneta parece não querer parar e segue desenfreada, obrigando os dedos já calejados e dormentes a prolongar este seu ofício.Estou cansado e meio adormecido. Os personagens da minha história tomam conta da situação e decidem o rumo dos acontecimentos. Estamos já irremediavelmente envolvidos e eu preocupo-me com o seu futuro, ainda imprevisível para mim.Ganharam vida própria e a minha caneta segue, desenfreada, segundo a sua vontade. Quero parar, apagar, corrigir, mas não, não consigo!Estarei a ficar louco? Estou a sonhar? Os meus personagens ganharam vida própria? Será isto a inspiração? Volto a mim, olho para o que está escrito. Começo a ler. Estranho, não me recordo de ter escrito nada disto. Diálogos, enredos, intrigas, alegrias e desgraças, tudo descrito com uma harmonia ao mesmo tempo bela e simples.A história é bonita, fala de dois amigos, separados há muitos anos e a história vai sendo contada através das lembranças de cada um e do ponto de vista sobre situações comuns e as respectivas atitudes tomadas perante situações comuns. Assim percebemos a riqueza da sua amizade, os momentos de alegria, os medos e receios, as inseguranças e as emoções que levam à trágica separação quando tinham tudo o que precisariam para viver um grande amor.Estou encantado. Ao mesmo tempo, assustado.Escrevi isto e gosto do que acabei de escrever. Perdi a sonolência que me prendia ainda há pouco e interrogo-me: como é que conseguimos escrever? De onde vêm as ideias para o que escrevemos? Serão o resultado das experiências vividas ou de nos colocarmos em situações que conhecemos? Seremos capazes de verdadeiramente ”criar” algo de novo ou tudo aquilo que conseguimos conceber será resultado apenas do contacto com o mundo que nos rodeia? Não, não quero pensar nisto! Escrever devia ser uma coisa natural, devia ser música para os ouvidos, devia exprimir exactamente aquilo que sentimos.Mas não! Custa-me tanto escrever, nunca estou satisfeito. É muito frustrante querer dizer algo e, quando lemos, nunca soar como aquilo que estamos a pensar. E então, após um período, parece que tudo encarrila, tudo se encaixa, tudo flui como água pela cascata abaixo. E é pura magia, ter a satisfação de escrever, de ler, de viajar por frases adentro, perdermo-nos em teias de palavras e deixarmo-nos levar como uma folha solta ao vento nas fortes brisas de Outono.

Thursday, January 05, 2006

Estávamos sentados, tu e eu

Estávamos sentados, tu e eu. À nossa frente, o oceano, belo e imenso. Estavas linda como a madrugada que desponta. O sorriso iluminava-te a face e os teus olhos brilhavam. Nuvem alguma poderia conter a luz que irradiavas. O barulho das ondas era imenso e tu não dizias nada. Não era preciso. Ambos sabíamos o que cada um estava a pensar.

Saturday, December 24, 2005

Natal

Era uma vez uma menina e um gato. O gato brinca na rua, a menina vive lá. Todas as migalhas são partilhadas e todos os sorrisos também. A menina sorri, alegre e sincera, quando alguém lhe dá uma moedita. O gato saltita em volta dela com uma elegância até então escondida, talvez contente por ver a menina sorrir. Está frio e a menina está encolhida, embrulhada numa capa velha. O gato vai para o seu colo e enrosca-se. Também tem frio e a menina faz-lhe festas. Ele gosta e estica o pescoço em sinal de reconhecimento e amizade. O gato estica as patitas a provocá-la e a menina alinha na brincadeira. Fazem um bonito quadro a menina e o gato preto. O gato tem o pelo brilhante e com um aspecto macio. A menina trata-o bem. A menina está impressionada e olha com um brilho apaixonado para os presentes que circulam à sua frente em sacos coloridos nas mãos das inúmeras pessoas que passam junto dela. O gato olha, espantado, para ela. A menina parece hipnotizada com o movimento frenético à sua volta. O gato está confuso, com tanto movimento, nem sabe para onde olhar.A menina tira um bolo de um saco. Estava com fome e sabe-lhe bem esta gulodice. Não acaba de o comer e esfarela umas migalhas para o seu fiel companheiro.O Natal deve ser passado entre amigos. A ceia deve ser partilhada. Está mesmo muito frio...

Monday, December 12, 2005

Náufrago

Sozinho. Abandonado. Só me ocorre pensar porque me terá acontecido isto. Eu não merecia isto!
Dizem que cada um tem o que merece. Não acredito. A ser assim, bastaria esforçarmo-nos por fazer o bem que, inevitavelmente, a vida nos correria bem. E quem é a entidade que avalia e decide da bondade dos actos de cada um? Deus? Ah, ah, deus... Qual? O das pegadas na areia que me carrega na alturas das dificuldades? Esse deixou de andar ao meu lado há já muito tempo.
De qualquer modo, a vida sorri para muitos que não merecem. Tenho inveja, muita. Parece que é um dos pecados capitais. Mais um que carrego...
Engraçado, ao longo da vida nunca perdi muito tempo a pensar na morte. Desde que aqui vim parar depois do acidente, tenho dedicado muito do meu tempo a esta actividade. Dizem que antes de morrer revemos a nossa vida num instante. Espero que não. Desagrada-me pensar que o que fiz se consegue resumir num mísero instante.
Já perdi a esperança de ser encontrado. Nas histórias, os náufragos enviam uma mensagem numa garrafa para poderem ser salvos. Não tenho garrafa, não saberia o que escrever e não sei onde estou. Estou perdido!
Sei que irei morrer em breve. A fome e o cansaço estão a vencer a batalha contra a minha vontade de sobreviver.
Já pensei no suicídio. Assustei-me. Acho que os homens querem duas coisas na vida: sobreviver e ter paz consigo próprios. O pensamento de suicídio vem quando o desejo de paz é maior que o de sobreviver.
Se fosse crente, esta era a altura para me arrepender dos meus pecados. Nunca perdi muito tempo a pensar nas coisas passadas.
Quando era criança e me confessava pensava sempre: "Como é que o padre sabe se eu estou realmente arrependido e que mereço a absolvição?"
Um dia decidi perguntar à minha mãe. Respondeu-me: "Deus sabe se estás a ser verdadeiro ou não."
"Nesse caso, para que serve o padre?", repliquei.
Realmente, um deus que precisa de intermediários para absolver os pecados, não deve ser grande ajuda agora que naufraguei e vim aqui parar.
Talvez seja o meu castigo pela vida que levei. Mas não estou arrependido. Seria oportuno, como o ladrão na cruz que se salva no último instante.
Ficarei à porta do paraíso...

Tuesday, December 06, 2005

Diálogo

- O que estavas a fazer?
- Porque queres saber?
- Não quero, perguntei apenas por simpatia.
- O que te faz pensar que é simpático perguntar isso?
- Desculpa, estava só a fazer conversa.
- Não tenho paciência nenhuma para isso. Se não tens nada para dizer, não achas que seria mais simpático ficar calada?
- Estás impossível, às vezes nem sei como é que te aturo...és tão complicado!
- Eu? Apenas sugeri que devemos ficar calados quando não temos nada para dizer. Parece-me difícil ser mais simples que isto.
- Dá-te assim tanto trabalho falar comigo?
- Se calhar é mais difícil ficar calado.
- Não comeces!
- ...
- Às vezes tenho a impressão que te achas superior a toda a gente.
- Porque dizes isso?
- Falas sempre com esse tom. Parece que não te interessa nada dos que os outros dizem. E olha que não sou a única a pensar assim.
- Não tenho a culpa se, na maioria dos casos, as outras pessoas não falam de nada que me interesse. Era o que me faltava ter de dizer disparates só para manter conversas com pessoas que não me interessam. Não tenho paciência, pronto!
- Já reparaste que cada vez falas com menos pessoas?
- Já. Devo estar a ficar refinado.
- Nunca te ocorreu que, se calhar o problema é teu?
- Qual problema?
- Não tens notado que, aos poucos, toda a gente se tem vindo a afastar de ti?
- Sim.
- E não achas estranho? Não te perguntas porque será?
- Não. Não perco tempo a pensar nisso.
- Não achas importante pensar nos teus amigos?
- Se fossem meus amigos, não se afastavam.
- Se calhar afastaste-te tu e não os deixaste vir ter contigo.
- Se calhar...
- Bem, já percebi que não queres falar. Adeus!
- Pois, adeus.

Tuesday, November 29, 2005

Escreva.com

Realmente, há de tudo na internet. Eis aqui uma espécie de fórum onde se escreve, havendo até desafios de escrita para todos os gostos.
O post anterior já participou num desafio colocado.

Monday, October 31, 2005

Um caminho

Vou a caminho da estação. São sete e meia e faltam treze minutos para o comboio chegar. Não estou atrasado, já deixei para trás o quartel dos bombeiros e falta apenas atravessar a travessa junto ao jardim municipal. Era capaz de fazer o caminho de olhos fechados, há tantos anos o percorro diariamente. Conheço os cheiros, as pinturas nos muros, as pessoas que passam com ar apressado e indiferente.
Na esquina da travessa com a rua da estação está um homem. Dorme aqui todas as noites desde Setembro. À hora que passo está ainda deitado, embora acordado. Veste um casaco grosso e cinzento, parece um sobretudo. As calças, de tecido fino, não devem ajudar com este tempo.
Deve ter à volta de cinquenta anos mas os cabelos brancos invasores e despenteados podem ajudar a confundir. Por detrás das sobrancelhas brancas e espessas, espreitam dois olhos pequenos e claros com um ar triste, de quem há muito perdeu o orgulho. Nunca o vi pedir dinheiro mas há quem lhe atire qualquer coisa.
Hoje parei junto dele. Perguntei-lhe:
- Quer comer alguma coisa? Venha, ofereço-lhe o pequeno-almoço aqui no café.
Ele olhou-me. Nos seu olhos pareceu-me ver um ar misto de surpresa, esperança e medo.
- Quem lhe disse que tenho fome? Não preciso de comida!
A resposta desarmou-me por completo. Gelei! Por um instante, o medo e a vergonha atravessaram-me e fiquei com a sensação infantil das crianças que fazem asneira e são descobertas.
Não reagi, não respondi, não fui capaz de dizer uma palavra! Finalmente andei, afastei-me. Apeteceu-me correr, fugir dali, não falar com ninguém.
Durante todo o dia pensei nele e não fui capaz de me concentrar em nada.
Engraçado, nem me lembrei de lhe dizer "Bom dia!". Ou de lhe perguntar o nome...
Talvez da sua boca, com os lábios feridos, saíssem palavras mais agradáveis para mim. Ou talvez não. O que interessa agora? O tempo só tem um sentido.
Ao fim do dia regresso a casa. À medida que me aproximo da travessa do jardim não consigo parar de pensar no episódio ocorrido. O que me dirá ele, quando me vir? Podia tomar um caminho diferente...
Que disparate! Como é que um mendigo me consegue perturbar tanto?
Chego à esquina. Não está cá ninguém. O alívio sucede ao receio e chego a casa para jantar.
Talvez, também ele, tenha ido jantar. Talvez não precise de comida.

Wednesday, October 12, 2005

...

Memória,
viva, solta e livre.
Turbilhão de ideias
prisioneiras de um castelo
onde a vida e a esperança
se encontram numa dança
em espiral.
Já morreste, corpo?
Ou é a memória que me atraiçoa
e se esqueceu de mim?

Thursday, September 29, 2005

outro...

Noite, escura como breu,
mostra o nosso maior receio.
A solidão, companheira amarga
corrói alma e coração.
Para onde vão a força e a vontade
de resistir a esta dor...
Há tanto tempo caminhamos juntos
que ficámos companheiros
na viagem para a eternidade.
Mas...
De que vale contemplar o infinito
se o coração está vazio?

Tuesday, September 27, 2005

Mais um

Já de longe o vento arrasta
a minha alma perdida.
Volta, ó sorte madrasta,
faz renascer a minha vida.

Vem o tempo, e a vaidade
que era muita, agora foge.
Vem a morte sem piedade,
faz esquecer o dia de hoje.

A morte vem, não há sorte que valha.
Assim parte esta vida que não presta.
Serás apenas mais uma batalha,
ou és apenas aquilo que resta?

1

Olhar o tempo, quando o tempo passa.
A luta, torna ouro em pobreza,
a vida, nossa fonte de riqueza
junta-se à morte e traz a desgraça.

Partida

A leitura sempre me apaixonou.
Tenho, no entanto, vindo a perceber-me da dificuldade da escrita.
Para além da dificuldade em si mesma, o tempo, essa grandeza terrível, não ajuda e foge sempre nos momentos mais necessários.
Assim decidi começar a escrever por aqui, tendo a esperança de conseguir ir melhorando aqueles escritos que, até agora, ainda não me satisfizeram.